domingo, 27 de junho de 2010

Esquecer o esquecido

O esquecimento é uma falha humana.

Você esquece de acordar cedo, esquece de colocar o relógio pra despertar, esquece a chave do carro, o óculos, esquece de comprar o sabão que acabou... Eu sou a rainha dos esquecimentos, pois faço tantas coisas ao mesmo tempo, que quando vejo, de repente, algo não saiu perfeito, porque eu esqueci. O horário do ballet da Sofia, todas as quartas-feiras, resolvi o problema contratando um motorista. Como sair da Fundação às 10:50h, voltar e sair de novo às 11:50h? Não tem lógica...

Esquecer o nome da pessoa que está falando com você e ela fala o teu nome e repete e te abraça, meu Deus, eu fico sem chão nessas horas... Ou você conhece a pessoa, falou com ela outro dia mesmo, foi apresentada, passou a noite conversando, encontra depois de uma semana, e nada de lembrar o nome... Putz, que chato!

Mas esquecer de pegar o filho na escola, graças a Deus, isso nunca aconteceu comigo, porque deve dar uma dor na consciência... Eu já vi cada caso, nossa!

Esquecer é natural, mas se sentir esquecido é uma dor anormal. Combinar com alguém alguma coisa e a pessoa não aparecer - principalmente em casos de encontros amorosos ou quase amoroso - é coisa de outro mundo. Você senta no bar e fica horas. Você do lado do telefone - ele falou que ia ligar - não liga, esquece. Apenas esquece. Como você esqueceu o isqueiro na gaveta. Às vezes, sem querer nem te magoar, mas esqueceu.

Esqueceu daquele encontro virtual só pra te mandar aquele beijo na boca. Mas você passou a noite toda sonhando com aquele beijo bobo, via face, que vira - só na sua cabeça - aquele beijo de novela, ou melhor aquele beijo final do Casablanca ao som de 'As time goes by'. Quem não viu?

Bom, não tem como remediar, o negócio é esquecer o esquecido, voltar para o seu domingo com cara de domingo, ver o jogo da Argentina, se divertir com o Maradona e cavocar a memória.

Escrever para esquecer.




Esboço sobre a idade | Sobri-edade por Cláudia Alencar

Sou a nova balzaquiana, mas mais fraterna: Bovalencar da idade moderna.

Uma das vantagens da idade é usufruir o sucesso dos amigos que se tornaram gênios na maturidade.

Palhaçada mentir idade, mas hoje, quando digo, as pessoas gargalham: - Você é muito engraçada.

Você tem 15 anos de costas, 30 de lado e 40 de frente, diz Lais Jardim.

Ela vê todas as idades se assentando nos sessenta de mim.

As mulheres aplaudem pasmas, os homens agarram logo a cintura, sabendo que não sou donzela.

Todos safados, mas eu me safo como se fosse uma delas.

Os jovens que não são filhos têm uma curiosidade testesteronica incrível.

Os filhos exigem estabilidade emocional, maturidade, sabedoria, mas qual!?


Ajudo muito mais gente do que nos tempos do Rose Bom-bom.

Mais despojada de mim faço caridade a quem precisa sem querer troca suas.

Na alegria da arte e nas pedras dos caminhos me tornei milionária de dons.

Sou palhaço que dá livros, flores e arruaças pelas minhas ruas.

Dou conselhos, colo, presença física durante dias, anos e horas.


Apresento jovens artistas a diretores dando aval, abrindo portas do plim!.

As amigas levo para meditar, revelo caminhos espirituais por décadas estudados.

Inspiro fã de Phoenix que perde quilos, leva vida saudável inspirado por mim.

Apresento pares que fazem ótimos negócios e recuso qualquer tipo de porcentagens.


E vem os elogios, prêmios do Tempo - esse Senhor Hors Concurs da Formula Um.

Minhas opiniões são mais respeitadas, minha poeta ganha homenagens.

Meus amigos, internacionalmente reconhecidos, Tomoshigue, Tozzi, Gruber, Granato,

queridos de Sampa, de moça criança, da era performática, barbarizadores da cena paulista.

- Meu, mó barato.

Nos abraçando vinte anos depois emoções jorrando delicadamente desatadas.

A poeta, mulher do Peticov, entrega seu livro e diz sentir-se honrada se eu a ler:- Venero seus escritos....

Imagine! Imagine só... A que ponto chegamos do pódio e da ilusão.

Mas acalentou meu coração sentir que todos foram tatuados por mim e em mim.

Tiram fotos como fãs, ouriçados pela minha arte e juventude que é templo da minha maturidade.

Essas são algumas das felicidades de se ter mais idade.

Mas há as tristezas dela.

De saber me mais perto da Dona fatal coisa que não assusta, mas entristece.

O jogo está acabando e é preciso mais gols, ser mais feliz do que sou.

Como fazer mais se a cabeça é a mesma no pensar.

Como ser Beauvoir se sempre fui Pagú.

Como ser Isadora Duncan se sempre fui Claudia Alencar.

Como ser Pelé se sempre fui Rivelino.

Mas fugi de Mefistófeles, para nunca ser Fausto e amargar o arrependimento final.

E ainda há tempo de fazer mais obra de arte, de beijar o homem-menino.

Sei que trago a melancolia de não ter feito tudo o que podia.

Se bem que ainda estou, aqui, belamente viva

Casada com o Senhor Hors Concurs dançando nossa chama: essa folia.

E um ps: o desejo permanece, mas o entusiasmo, pouco a pouco esmaece, mas não fenece.


Viva!






Gente e quem diz que essa belezura tem 60? Ninguém! 60 de experiência, de vida bem vivida. Porque fisicamente: dá-lhe crise dos 40 nas quarentonas como eu!!!! Dá-lhe Claudinha!!