terça-feira, 25 de maio de 2010

A crise de um homem só | Por Sérgio Cerviño Rivero

A crise dos 40, que nada mais é do que uma continuação daquela primeira crise, aquela inaugurada no nascimento, leia-se viver pelo resto da vida, vai sendo sofisticada na medida em que vamos tendo mais dimensão do tempo vivido. Hoje, o espelho que gritava e nos avisava, dia-a-dia, que o tempo passava juntinho da gente, mas no corpo dos outros, inicia uma aproximação radical e, agora mudo, passa a deixar marcas no nosso corpo... Eu que tinha o hábito de sorrir sempre, olhando-me no espelho, continuo ainda fazendo o gesto, mas sempre preparado para mais um vinco cutâneo, repentino, que mostre, mas nem tão poeticamente, o tamanho da minha memória, como diria o Bartolomeu Campos Queirós.

É chegada a hora de constatar que os Natais, Anos Novos e todas as datas forjadas no calendário, se repetiam, sim, e assim continuarão repetindo-se sem nenhuma novidade maior. Havia uma importância qualquer, no passado, que girava em torno de você. Você era muito jovem ou jovem. Esqueça isso. Estas datas, daqui pra frente, só farão trazer a lembrança dos outros: os muito jovens e jovens, os velhos, os vivos brevíssimos, os sumidos e os mortos.

Constata-se também, pela década dos 40 em crise, que as relações afetivas e que o sexo dentro delas são variações sobre o mesmo tema. Se você está só há pouco tempo, depois de anos investindo numa família, vai sentir, por um tempo, uma falta enorme daquele papel íntimo e social. No caso masculino padrão, marido e pai. Nada mais a ver com a esposa, a dor é institucional mesmo.

Você passa, então, a ser uma nova ovelha desgarrada do bando e pressente que entra, sem sentir, numa modalidade outra do ser masculino. O quarentão só e obviamente disponível. Nem tão óbvio assim. Não há tempo, agora, para pensar muito. A constatação da hora é que a solidão enlouquece, que as pessoas piram, que as mulheres da sua mesma era perderam seus poderes e, tontas, bloqueiam toda aproximação, que o seu crivo é enorme e que voltar à ativa aos 40 é muito mais dificultoso do que aos 30...

O sexo, ah, esse tem que ser finalmente como você sempre quis, afinal, o tempo urge, ruge, tosse e agoniza. Mesmo que tudo esteja ainda indo bem nesta área íntima, você percebe que seu fôlego não é mais o mesmo, que a qualidade deve imperar porque nada mais se espera daquela quantidade ‘irracional’ de outrora. Há, portanto, pequenos sinais de que algo mudou. Vai ver porque o seu imaginário quarentão transborda de imagens e, hoje, excitar-se requer mais concentração e empenho ou uma imagem corpórea, à vista dos olhos, sem muitas rasuras. Não é desprezo à maturidade feminina ou pretensão dos homens que ignoram sua queda e tudo fazem por uma de suas últimas afirmações. É mesmo o que acontece no campo da possibilidade ou da impossibilidade... Ou não... A possibilidade de ainda endurecer-se e proporcionar prazer, a si mesmo e a alguém mais.

A crise também se revela grande quando você se pega julgando o mundo demais. O passado era melhor, você teve educação doméstica e o capitalismo era menos selvagem. Será mesmo? Será que o mundo era outro ou mudou, como se espera que mude, este leitor do mesmo texto? O mundo, com todo o frescor do desconhecido, deixou o viço de lado e mostra para você que é velho, atrasado, tardio e que mesmo o novo poderá vir, por vezes, previsível, requentado. Há uma crise, portanto, que reside todinha na mesmice e em sua perpétua continuidade. Crise agravada pela velhice que virá ainda, você já sabe, lhe surrupiar os instrumentos que lhe faziam viver aquilo, lá mesmo, com certa dignidade.

Há algo que nos salvará do tempo e da crise corrente? Há. A paixão, o amor intenso, arte, um sentimento que atinja, com violência, coração, sentidos, percepção, sensos, razão. Pois eis que nubla tudo, reconstrói, superposto ao conhecido, uma fusão de imagens, cenas desconexas, enfim, o novo que, instaurado e breve, sempre promete.

Sérgio Cerviño Rivero, tem 47 anos, mora em Salvador e é Professor nas áreas de Letras e Comunicação e Assessor da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

Por Thereza Portes

Bom dia Bel,

Hoje acordei melhor depois de uma cirurgia para a retirada do útero aos 43 anos... passei um mal danado e aconselho as mulheres a se prepararem emocionalmente e fisicamente para essa etapa, é um soco no peito! Mas, seguindo os conselhos das tias mais velhas é melhor começar a pensar positivo, porque a partir de agora a vida fica muito melhor! Assim espero, ainda não sei...rs

Hoje pensei, será que estou em crise???? E de repente, resolvi abrir meu computador e lá estava seu e-mail, achei muita coincidência!

Mas vamos ao assunto do blog! Sou péssima para escrever, mas tenho várias anotações em cadernos de desenho... são bem legais e falam exatamente desse momento delicioso e às vezes desafinado que são meus 40 anos! Tem devaneios, desabafos, sensações e desenhos misturados. Eu acho interessante a imagem aliada aos textos. Se quiser posso enviar para vc ver. Só que estou de cama e na casa da minha mãe, e os cadernos estão no atelier. Terei que esperar um pouco para te enviar as imagens.

Um beijo,
Thereza.

Thereza Portes mora em Belo Horizonte, tem 43 anos e é artista plástica.

Crise?! | Por Fátima Ribeiro

Sem querer parecer pretensiosa, mas não me furtando em dizer a verdade, nunca tive crise, nem dos trinta, nem dos quarenta. Sempre fiz questão de dizer quantos anos tenho, é comum até que eu diga minha idade já contando com o aniversário que ainda é em outubro, por sinal, no mesmo dia 10, que minha amiga autora deste blog. Farei 44 bem vividos este ano. Não que eu seja uma pessoa sem crise, isso definitivamente não existe!!! Crises são passageiras e nos impulsionam sempre. Mas procuro fazer de qualquer uma, por mais fútil ou dolorosa que seja, um modo de amadurecer e quem sabe, no final, tirar algum proveito. Cheguei a me perguntar, há um ano atrás se tinha feito tudo o que havia me proposto há 20 anos! E a resposta, é claro que não! E quando estava pensando em entrar em crise por isso decidi fazer o que ainda dá... E acho que estou me saindo bem. Não sem correr riscos, mas não soube, pelo menos até agora, viver de outra maneira.

Então, crises? Que venham! Vamos saboreá-las, vamos nos arriscar e crescer sempre!!!

Fátima Ribeiro mora no Rio, é carioca da gema, tem 43 anos e é fotógrafa.


Sem crise

Da esquerda para direita: Enison, Dani, Adriana e Alice

A foto tá atualizadíssima, foi tirada sábado passado. A única que ainda tá com 39 igual a mim é Alice. O resto já entrou nos 40...

Com esses quatro eu tive muitas histórias. Mesmo eu não estando nesse show, mesmo com todos separados, há anos morando cada um num lugar diferente, tem pessoas que são como irmãos, irmãs, que você pode chegar a qualquer hora, ligar a qualquer hora, pedir qualquer coisa a qualquer hora. É essa minha história com esses 4.

Eu conheci Alice com uns 16 anos... Eu já conhecia Dani há mais tempo. Apresentei Alice para Dani. Nós conhecemos Adriana. Eu fui morar em São Paulo. Levei Alice comigo. Ficamos 5 anos morando juntas.

Dani que dançou com Enison e eu estava junto. Nunca mais se desgrudaram. Eu fui madrinha de casamento de Dani e Enison.

Michele era amigo de Édinho e Ciloca. Ciloca e Édinho nos apresentaram Michele. Michele se apaixonou por Alice. Não saia mais lá de casa. Insistiu. Alice casou com Michele. Foram embora para Florianópolis. Estão lá até hoje e deve permancer lá porque a vida foi boa para eles no sul.

Adriana não se casou. Mas continua firme na sua jornada. Não é mesmo, Dri?

Com essas quatro pessoas fiz de tudo na minha vida, nos meus 20 anos... Ahhh eu não tenho autorização para contar, gente! Eu tenho apenas a minha autorização para dizer o que faz com que as pessoas permaneçam juntas, amigas, depois de tanto tempo:

- Amor. Amor é amor, nunca tem crise. Sem crises.

p.s.: todos os quatro irão postar seus depoimentos aqui no blog. Suas crises dos 40. Estou esperando.