segunda-feira, 23 de maio de 2011

Eu e Krajcberg

Hoje, segunda-feira, chego em casa depois de um dia exaustivo e fico pensando, recalculando - fazendo contas mesmo - dos meus modos, das minhas vontades, pensamentos... Presumo que, a cada dia mais, tenho sentido menos vontade de me comunicar com os homens e com o mundo.

Olho para o motorista de táxi e peço que faça tal percurso, ele faz outro. Pago a conta do cartão de crédito, o banco vai lá e paga de novo. Ligo para a central de cartões e digo: - olha, um momento, minha secretaria está dando a última verificada aqui pra ver se eu perdi mesmo o cartão, um minuto, por favor, ah ela achou! Não preciso que cancele o cartão, muito obrigada. Vou usar o cartão hoje, cancelado.

Fora as questões emocionais. Ou o cara liga toda hora, todo dia, incansavelmente, que é muito chato, grotesco. Ou quando você supõe que poderia ter achado alguém inteligente e ideal, o cara demora 3 a 4 dias para te ligar de volta, quando liga, depois de uma noite fabulosa. Não há flores, telefonemas, mensagens, nada. Acaba a vontade, o sonho do dia seguinte e também fica chato e quase abusivo.

Todas as dúvidas se juntam. Uma a uma.

Krajcberg se cansou de tudo isso. Dos bancos, da neurose burocrática da cidade, dos homens, dos medíocres, do amor. Ele quis viver uma vida só, ele e a sua arte e conseguiu destaque ainda nisso. Um gênio!

Eu o invejo - mas uma inveja boa - há cada dia que passa, há cada pessoa que conheço e que tenho que conversar e conviver. E assim me sinto, com o passar do tempo, disposta a ficar mais quieta, mais neutra e sozinha, pois não tenho suportado os diversos ângulos que as pessoas conduzem uma série de segmentos. É uma seqüência destoada que enche a alma de preguiça e você fica se perguntando quem é o mais tolo (?).

Krajcberg coloca que o dia mais feliz da sua semana é o domingo, pois é o dia que se sente mais sozinho. Será que isso é um sonho infeliz ou será que a felicidade está realmente aí, nesse ponto de confinamento e nitidez? Você admite que não aceita as imperfeições humanas e o mundo se abre para você? Fica a pergunta, pois nunca irei a Nova Viçosa - BA, perguntar ao ilustre artista: - a solidão é o melhor remédio para nós, pobre mortais perfeccionistas e obcecados com uma realidade que não existe? Seria uma grande bobagem, quase um trocadilho.