sexta-feira, 1 de abril de 2011

Crise no cinema

Em plena crise dos 40 me senti nesta semana. Só hoje fiquei melhor com a história, saiu a inhaca e consegui escrever. Também estava cheia de pendências pra resolver, não mais importantes, mas inevitáveis.

Na terça-feira estava conversando com um amigo cineasta via web, sobre o cinema daqui de Ouro Preto: propostas, vontades, sonhos... Tava ótimo, sempre é ótimo, fim da primeira garrafa de vinho, depois de nadar 500 metros na minha aula de natação, meu corpo quase levitando, uma pergunta pairou pelo ar: - você assistiu meu último filme?

Eu não tenho papas na língua com ele, falo tudo, me conhece desde garota. Ao contrário disso, chego a ser sem vergonha, me sinto por demais à vontade para falar, reclamar, fazer comentários sórdidos, sem nenhum problema.

Depois de uma garrafa de vinho, eu já fico um pouco mais confusa do que já sou normalmente e, na realidade, eu sabia que eu havia assistido o filme. Quer dizer, que eu havia tentado assistir. Tentado não por que o filme é ruim, de espécie alguma! Aliás, vi tudo do André e adoro. Há 20 anos tenho o poster do lançamento de um dos seus filmes na França emoldurado no meu escritório. O problema todo era que eu havia visto o filme sim, mas não tinha... Eu tinha ido ao cinema, pois estamos com problemas no cinema de Ouro Preto há anos, então eu vou ao cinema em Belo Horizonte, sempre que posso. Mas minha vida é agitada, quando entro no cinema, me sinto tão bem, coloco que é um momento tão meu, para mim, que relaxo. Que quando me vejo, estou dormindo. Já aconteceu isso inúmeras vezes. Já dormi no teatro! Na última apresentação do Grupo Corpo, puta agitação, eu e Natália no Palácio das Artes, eu queria muito ver, meus olhos piscavam, dormi. Existem dias que meu cansaço é fatídico! Pode ser Fellini, Bertolucci, Almodóvar, não importa a obra, importa minha cabeça, meu corpo.

Sei que me enrolei toda, pois eu não queria falar, mas eu ia falar como do filme? Eu devia era ter falado que não tinha visto. Seria muito mais fácil. Mas o vinho, eu, minha sinceridade tola... Era meu amigo, não o diretor do filme, com quem eu estava conversando. Não, não, era o diretor... Senti uma energia caótica no ar. Como um papo virtual pode trazer energias infames? Ou será que eu me sentia ridícula ao extremo?

Sei lá, só sei que ele se despediu em seguida e desconectou.

Eu escrevi mais meia dúzias de bobagens tentando me desculpar. Me desculpar do que? Uma palavra a mais e mais ruim ficava. Resolvi ir dormir. No dia seguinte, ele respondeu:

- Na boa Bel, não se preocupe. Achei ótimo vc ter confessado que dormiu, muito melhor que a história de um dvd ou outra coisa vaga. Não fico chateado com a maneira q as pessoas veem meus filmes. São tantas pessoas e acabam vendo de uma forma tão diferente, não tem problema nenhum. Beijo.

Acho que a resposta pode ter sido sincera sim, sem ironias... Talvez a semana que vem eu confirme isso, pois agora faço questão de tratar do final da história deste filme pessoalmente. O virtual pode ser uma arma boa para reencontrar amigos, conversas de trabalho, beber com um amigo quando está sozinha em casa e querer uma companhia agradável... Há mil formatos, mas nada como o real para esses desentendimentos bobos, mas que, às vezes, fazem você se sentir como se estivesse dentro de um liquidificador.