terça-feira, 17 de agosto de 2010

40 até quando?

Ela veste 40 no número da calça, veste 40 no sutiã, sempre foi 8 ou 80, mas agora, fica nos 40...
Havia dias que andava tranquila, solta, pensando em outras coisas, pensando em apenas esquecer...
Ontem, quando o radar tocou no chat, ela foi 40... Não deu pra ser 80, nem 100, mesmo querendo ser. Ela é 40 e pronto.
Se acha 40 no corpo, isso quer dizer, nem 100, nem 80, talvez 60, mas 40 tá ok se fosse valer nota... Um perfeccionismo bobo e só.
Ela completa os seus 40. De corpo e alma.
Num silêncio danado, lá estava ela, no meio da casa... Silêncio dela, silêncio das crianças, todo mundo resolveu ficar quieto... Cada um resolveu pensar em suas vidas. Cada um no seu canto. Não há sons. Eram 21:30hs e parecia que todos pararam de respirar.
Ela pensava em qual fantasia seria mais adequada para o momento da espera...
Pensava em ser mais dele do que dela própria, querendo mais que podia. Para parar de pensar, escrevia : - Isso, escreve, acalma, fica quieta.
Achava que tudo não tinha passado de um lapso, mas que nada... Tudo volta quando ela fala com ele, parece que ela nem se reconhece, parece um mal entendido subjetivo e aí vem uma energia de tirar qualquer um do chão.
- O que é isso, meu Deus? Se pergunta.
Ela não quer, não quer, mas quer, quer, quer, quer mais... Um antagonismo de vontades...
Mexe na web, quer ver... Quer comprar coisas surpreendentes, aquilo que não pode. Quer escrever aquilo que também não pode. Quer ser aquilo que não pode ser, mas é, é ela, ela é aquilo, ela é isso.
Quer ser a chuva que não caiu sobre a cabeça dele, quer ser o frio que não congelou seus ombros, quer ser a nuvem calma que não caiu nas suas vistas... Quer ser ela, por inteiro.
Toma o vinho, promete que será apenas uma taça e ele desce, vai dimininuindo a quantidade dentro da garrafa, cada vez menos. Aí escreve, escreve, escreve... Apaga, apaga, apaga...
Palavras em vão que, juntando, dão um contexto: explosão!
Se vê desfilando com outros homens, mas quando lembra dele, sente-se única, imposta, a postos: - Ai, que quê é isso??
Ele a seduz com um beijo no rosto, a olha, olha de novo e de novo e de novo e de novo...
Ela usa suas escritas.
Parecem mais poesia que crônica.
Parecem mais filosofia que história.
Parecem tudo. Parece só isso, que é muito mais que isso...
Viaja, foje, vai pra São Paulo, Brasília, Chile, não quer ficar parada... Talvez as únicas pessoas mais interessantes e sensíveis da cidade onde mora, vivem a 1000 metros uma da outra e nunca se quer, tinham percebido isso. Ou tinham? Agora perceberam e não podem se ver todos os dias. A cidade torna-se grande.
A distância sem distância os trás o prazer, quase que longínquo, de algo impossível, fazendo disso arte. Pelo menos ela faz.
"- Ahh..." Esses 40 a leva a forma mais louca de dizer sim. Sim, sim, ela quer mais.
Liga no delivery do vinho, que por acaso existe neste lugar, fala: - me mande mais 2 garrafas.
Ela quer, ao menos, uma garrafa por noite, enquanto o devaneio não chegar.
Quer tudo.
E solta:
- Ai que sensação boa, foge de mim! Foge!