domingo, 29 de agosto de 2010

"Não querida, hoje eu não posso..."

Ela acorda, a cama está vazia...
Percorre toda a casa, procura por ele, mas ele já tinha ido embora... Procura no quintal, na garagem, não há nenhum vestígio... Nem um sinal... Um fio de cabelo, um par de meias... Ela se cheira, cheira os lençóis, nada... Acha um copo d'água, resto de água dele, bebe a água.
Passa a língua nos lábios e sua boca está amortecida, esse é o único sinal da noite passada: boca dolorida, seu corpo mole, o vazio na cama e a descontinuidade do amor...
Essa descontinuidade a mata, o ter e, ao mesmo tempo, não ter resulta numa simbiose de sentimentos irregulares.
Ela se toca, pensa nele, a cama gira, os lençóis estão vermelhos de sangue. Tudo está vermelho, vermelho rubi, vermelho chamas, vermelho, vermelho... Coração vermelho.
Rosas vermelhas dialogam com o quarto. Ela não aguenta e as despetala em cima da cama, mais vermelho, o colchão vira um mar de pétalas vermelhas, um mar de vontades...
Leonardo Cohen toca, ela quer dançar antes do café da manhã, quer tudo de volta, apenas meia hora, uma hora, 40 minutos, 40 anos... Ela quer aquela felicidade ambígua.
Liga para ele e diz:
- Preciso, preciso de mais 40 minutos, talvez um almoço de domingo (?)
Ele responde:
- Não querida, hoje eu não posso, já tenho compromisso...

O chão é duro, ela quer voar... Ela quer dançar!

Dance Me to the End of Love: