domingo, 3 de outubro de 2010

Inferno Astral

Ela estava à beira do seu inferno astral.
Ela estava à beira do abismo.
Passava tudo pela sua cabeça. Era um mar de bobagens, crenças, sonhos...
No fundo, ela queria uma praia, ela queria o mar. Ela estava cheia de dúvidas e só Yemanjá poderia ajuda-la.
Ela imaginava que tudo seria diferente, seria um mar de rosas, um mar de féu, de mel. Uma noite estrelada.
Seu mar imaginário era muito salgado, quase azedo. O ralo sujo e profundo da sua alma escoou com o resto do doce que poderia conter ali. Ela estava obcecada, ressentida, amarga, mas ninguém sabia. Ninguém...
Seus dias tinham sido felizes, seu domingo lindo, delicado, no meio da família, dos amigos, ajeitando os últimos detalhes para a sua festa de aniversário. Mas no fundo, no fundo do seu mar havia um vazio. Uma overdose de rejeitos, a caixa de e-mails vazia. Seu mundo interior estava inquieto, medroso, frágil, confuso.
Ela olhava suas fotos, olhava novamente para seus cabelos e não se reconhecia, não sabia mais quem era, o que fazia, o que queria.
Só sabia que havia uma unica chance, uma unica saída: reconhecê-la. Experimentá-la, deixa-la viver, por uma unica vez, se permitir a ser diferente do que era na sua essência. Mudar todo o percurso e deixar aquela onda de loucura permitir uma nova jogada, um novo rumo.
Ela precisava experimentar esse amargo, isso dava um nó na garganta, mas não dava pra chegar aos 40 sem passar por isso. Nada havia sido fácil, não seria agora.
O sonho estava por um triz e não chegava, como se Alice não acordasse, não queria acordar, não podia acordar, o final feliz ainda não tinha chegado, ela não acordaria sem o final feliz. Nunca.
Seria como se jogasse tudo no lixo, tudo fora, ela não podia se dar ao luxo. Era tudo muito especial. Queria ser feliz! E sabia que podia.
Ela estava tremendo. Mas por fora todos continuavam sem imaginar o quanto seus sonhos eram incansáveis, incabíveis, incuráveis. Mas ela não desistia. Não acordou enquanto não conseguiu cortar a cabeça do dragão. Não era do seu feitio.