sábado, 29 de junho de 2013

Iniciante

Na passagem dos 40 para 42 a vida segue seu fluxo surpreendente e louco.
A loucura quase óbvia na vida de um iniciante pós 40 traz a causa da dor, seja ela de amor, trabalho, filhos, país, casa, traz a obra sem fim. Em vez de tijolos e cimento, a massa, o concreto para estabelecer a base,   todas as mudanças constantes e ininterruptas, argamassa pesada. Ah fluxo sem fim, me dê uma causa justa para me manter viva, inerente aos fatos ruins, à crise. A abstinência dos tormentos existe?
O ser humano sempre tão complicado.
Nada está bom, já dizia eu mesma. 
O óbvio é tão chato quanto o inusitado. E me sinto no óbvio. Não há mais a sensação do frescor, do surpreendente. Experimentei da comida e gostei. Mas ela me dá náuseas, dores de estômago. Eu tomo uma colher de bicarbonato todos os dias e a dor não passa. Não engulo direito essa comida vital e acho que, no fundo, nem quero. Quero outra, outro jeito de me estabelecer como gente.
Na insensatez dos casos uma sombra masculina sempre me cerca. Ela poderia ser boa, mas também não é. Porque a sombra não deixa de ser vestígio. Sombra pode ser fantasma também, pode ser mistério. E de mistério para a minha vida pessoal eu não quero mais nada. Eu não quero as dúvidas. E não sinto a verdade esbarrando e me pergunto mais uma vez: - onde estará àquele que virá sem mistério, sem defeito, sem ser sombra?
Mais um dia de labuta interior. Na pirraça do que é e do que parecer ser, aceito um convite. Entro na dúvida, pois sem "bom dia", o dia fica apenas dia, não fica bom. Num salto mortal mudo os lençóis de minha cama e estendo duas bandeiras verdes em cima dela na esperança de uma vida nova. 
Um mutante dentro de mim quebra os clichês sempre. Se isso é bom ou ruim só minha velhice vai me responder.
Só não vou esperar do outro as respostas pras minhas perguntas. As perguntas são minhas. Apenas minhas. Recomeço é a palavra para o dia de hoje. Eu, uma iniciante pós 40, me dou mais uma chance. A chance de ser eu, Bel Gurgel. Que o mundo venha.